Projeto Memória de Professores da Região dos Lagos começou na sexta-feira passada (22/03)

Therezinha de Jesus marcou a inauguração do Projeto Memória de Professores da Região dos Lagos na última sexta-feira (22/03)
O Diário Aldeense irá divulgar no decorrer deste ano reportagens especiais sobre o projeto Memória de Professores da Região dos Lagos da Universidade Veiga de Almeida que recebe o apoio do nosso periódico. O projeto, segundo a coordenadora do curso de Pedagogia, professora Márcia Quaresma, é uma iniciativa a fim de resgatar a história da própria Educação, por meio das vivências dos profissionais que atuaram nos municípios. 

O primeiro profissional responsável pela formação dos cidadãos do futuro, os professores, a participar do resgate memorial foi Therezinha de Jesus Tavares Monteiro. Ela palestrou no auditório da universidade e marcou a abertura do projeto na última sexta-feira (22/03).

Therezinha de Jesus dedicou 57 dos seus valorosos 74 anos de vida a educação. As primeiras aulas foram de alfabetização de um grupo de mulheres, ainda durante o curso de Normalista. Foi professora na zona rural, diretora de escola, secretária municipal de educação, professora e vice-diretora de faculdade. Professora de Geografia, bacharel em Letras e mestre em Educação. Atuou durante o regime militar como na democracia, deixou sua marca no ensino da Região dos Lagos, especialmente na cidade de Cabo Frio.

Entre as histórias de vida narradas, contou que quando lecionava na zona rural, dois irmãos repetidamente saiam da sala para ir ao banheiro. Intrigada, descobriu que eles saiam de casa sem café da manhã, percorriam cerca de 5 quilômetros a pé e, na realidade, saiam da sala para beber água, numa tentativa de enganar o estômago. Emocionada, disse que a experiência despertou o primeiro olhar altamente significativo sobre a criança na escola. “Aprendi desde cedo a olhar nos olhos dos meus alunos e agir somente depois de olhar para dentro de mim. No ímpeto, nem sempre há bom senso”, declarou.

Atenta ao futuro, a professora defende que o aluno também constrói e doa sabedoria além de somente absorver dos profissionais educacionais. “São poucos os profissionais que tem a confiança de se colocar como mediador. O professor precisa descer do pedestal”, ressaltou.

Politizada, Therezinha apontou falhas no processo de formação dos futuros professores como superficialidade teórica e falta de experiência prática, ressaltou o analfabetismo funcional e criticou o programa federal Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. “Quando é que a Lei não exigiu isso (alfabetização até os 8 anos)? Quando eu era estudante já era assim”, questiona, acrescentando que faltam investimentos no alfabetizador para se alcançar esse ideal. “Já passei por muita coisa e pouca coisa mudou. A escola é um diamante que precisa ser lapidado”, analisou.

A aplicação irregular de recursos destinados a educação e a defesa de que ter a capacidade de alfabetizar deveria ser um critério de aprovação para professores também foram levados em pauta no debate.

Mestre Therezinha finaliza seu currículo, caprichosamente escrito a mão, com a frase: “O Magistério foi sua única profissão e se orgulha de ser Professora”. E assim também inspira e incentiva os futuros colegas. “Ame o Magistério, pois só quem ama é capaz de construir, agir, proteger e cuidar”, orientou.

Projeto Memória de Professores da Região dos Lagos

O inovador projeto que tem o apoio do Diário Aldeense começou este ano na UVA-Cabo Frio. O trabalho será realizado por um grupo de pesquisa, formado por professores e estudantes, resultando num banco de dados que possa servir de referência para artigos científicos e publicações. O foco está no depoimento dos próprios personagens e a meta é compartilhar pelo menos duas experiências por semestre. A próxima edição será em maio.

Créditos ao Diário Aldeense

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